quinta-feira, 14 de novembro de 2013

Bebé xxs | parte II

Ninguém estava preparado para o nascimento prematuro do Gonçalo...
E ninguém fazia a mínima ideia do que era um bebé prematuro. Eu não fazia, e ainda bem! Não fiz conjeturas, não sofri por antecipação, não fiz aquelas "brilhantes" pesquisas no google que somente têm o dom de nos deixar cheios de medo, assuntados e agoniados!

O Gonçalo nasceu numa madrugada de Agosto e eu só o vi no início da madrugada do dia seguinte. A verdade é que o vi porque o Nuno insistiu em levar-me à neonatologia para o ver...
A verdade é que eu não queria ir...
A verdade é que eu não fazia ideia de como reagir...

Lá fomos, os dois com o coração apertado... Eu estava ainda debilitada da cesariana e da anestesia geral e não estava preparada para o que iria ver!
O Nuno estava completamente absorvido pelo Gonçalo, já sabia abrir a incubadora, já começava a perceber o que eram todas aquelas máquinas, já tinha conversado com a médica e com algumas enfermeiras...

Lembro-me de me aproximar da incubadora e ter que me levantar a muito custo da cadeira de rodas para poder vê-lo... 
Lembro-me, também, que não o amei ao primeiro olhar... 

Descobri o meu amor por ele dias mais tarde, quando mo colocaram na posição canguru, quando o senti na minha pele e ele, finalmente, sentiu a minha!

Os dias que se seguiram foram de aprendizagem, para todos! O Gonçalo teve que aprender a lidar com a fome, que era muita! Afinal, tinha passado muuiiiita fome durante parte da gravidez!

Recordo-me de que quando comecei a extrair do meu leite para ele comer, por sonda, ele bebia 1ml... E chorava muito porque queria mais! As enfermeiras lá davam sempre mais um bocadinho do que a médica mandava, mas ele queria sempre mais!

Ao terceiro dia, consegui, finalmente, que me dessem alta. Digo finalmente porque das situações mais duras que vivi foi estar internada num quarto com mais duas mães que tinham os seus bebés ao lado... Durante o dia era mais fácil, pois eu só vinha ao quanto para comer e descansar um pouco, mas durante a noite eu tinha que estar no quarto e, se por um lado era difícil não ter o meu bebé comigo, por outro era constrangedor sentir "a pena" das outras mães a olharem para mim...

Três dias passaram a correr, tanta era a novidade... Eu sabia que o Gonçalo estava bem e sentia que a Carolina precisava de mim em casa, por pouco tempo que fosse. Assim foi, vim para casa (da minha mãe) e, pelo menos, as noites eram de sono, tal era o cansaço de passar o dia inteiro no hospital.

Aos poucos fomo-nos habituando ao dia a dia num serviço de neonatologia, aprendemos a dar-lhe banho, dentro da incubadora, a ler, como ninguém, os números das máquinas e barulhos esquisitos, ao ritual da pesagem, todos os dias, à hora das refeições, que apesar de serem pela sonda, era feitas ao colo, ora meu, ora do Nuno! 

Tivemos também que nos organizar segundo as rotinas do serviço de neonatologia... De manhã, às 9h, chegávamos ao hospital (lavar mãos, desinfetar, vestir farda, colocar proteção nos pés) dávamos banho ao Gonçalo, assistíamos  ao peso, ao tirar da temperatura, dávamos colo, o leite e ele adormecia. Saíamos um pouco os dois, conseguíamos colocar em dia os sentimentos e pensamentos e um de nós reegressava a casa para estar com a Carolina, o outro regressava ao hospital... assim era, por ciclos e turnos, durante o dia, até à meia noite! 

Os dias foram passando, e, felizmente, nenhuma contrariedade nos assolou...  Todos os exames e despistes normais, mas, a verdade, é que nós nunca pensamos nem acreditamos no contrário... Nunca mesmo! Sempre acreditamos que tudo iria correr bem! E foi esse acreditar que nos deu força para viver o momento mais duro das nossas vidas...

O menos bom desta situação: a pressão do peso!!!!!! A criança tinha que engordar! Tinha que chegar aos 2kg para poder ter alta!!!! Os comentários de algumas pessoas, que teimavam em comparar percentis... Se calhar, se não tivesse passado por isto,  também eu o faria...

O melhor desta situação: o quão fortes e unidos ficamos!!!!!!! E a humanização e qualidade dos profissionais do serviço de neonatologia do Hospital de S. Marcos!!!!!!! 




Aqui está o Gonçalo no dia que "tivemos" alta hospitalar! Quarenta dias depois do nascimento conhece a sua casa e acha que é muito diferente do hospital... Nessa noite, chorou muito, sem parar, porque estranhou o silêncio... 



Aqui está o Gonçalo com 4 anos, um bebé xxs com uma determinação XXL




Este é o caminho... Sempre acreditar, nunca desistir e amar incondicionalmente!  

4 comentários:

  1. Susana, não sei o que dizer...... passei por isso tudo sozinha, mas valeu a pena!!! Embora eu tivesse muitos medos, tinha medo que a minha filha não conseguisse aguentar..... mas, eu falava com ela todos os dias a pedir-lhe que fosse forte porque a mãe amava-a muito.... enfim, momentos que a vida nos põem à prova!!! Susaninha, cada palavra que li... cada lágrima de alegria me caíam!!!! Beijocas gds. Vocês são mesmo todos especiais!!! Beijão gd para o meu Gonçalo.....

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    1. Obrigada também por essa partilha! Quem passa pela situação dá, sem dúvida, outro valor. Beijinhos:)

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